The Lurker and the emptyness (learning to cope with solitude)
Durante alguns anos minha mãe esteve encantada com o conceito de marketing de rede. Em função disso investiu consideráveis recursos e tempo, criando seu grupo de contatos e vendas. Ela achava que, realmente, a coisa funcionava. Bem, sabe-se que não funciona, ou pelo menos não o faz como seus promotores dizem. Mas as promessas de futuro que são feitas são muito tentadoras, acompanhadas de evidências de sucesso através de depoimentos das pessoas que “chegaram lá” e é difícil escapar à sedução. Como em relatos de pessoas que deixaram seus empregos formais (chamados com algum desdém, de "plano A") para seguir os caminhos tranquilos do “plano B”, pavimentado por fabulosas comissões que cresceriam na proporção das vendas da rede. Vá se entender.
O sujeito que era responsável pela parte superior da rede que minha mãe “habitava” era uma pessoa em quem eu via uma arrogância velada, de quem se compraz com uma certa servitude de seus subordinados. Sua esposa, que também participava do negócio, seguia a mesma risca. O tal cavalheiro tinha uma frase com a qual encerrava as reuniões da grande rede. Sim, como você certamente depreendeu, eu comparecia às reuniões, conquanto jamais tenha ombreado ou trabalhado para a organização, tendo em vista que sempre achei que a coisa era filosoficamente questionável em suas idiossincrasias. Mas mãe é mãe e eu a acompanhava, mesmo a contragosto. O tal sujeito tinha, como eu dizia, uma frase; um bordão: “Nos vemos nos aeroportos do mundo!”. Então, tá...
O tempo passou, a tal da rede não ia para onde os caras prometiam (que surpresa) e a turma do “plano B” estava derivando novamente para o “plano A”. Nesta ocasião eu vim a trabalhar em uma atividade que me colocava para voar um bocado. Chegando mesmo a até seis vezes por mês, e pelo Brasil todo. E toda vez que ligava para minha mãe, do aeroporto onde eu chegasse, dizia ao telefone: “Mãe, cheguei. Eles não estão aqui. Marcaram e furaram de novo!”. Isso nos divertia, pois a essa altura as não poucas falhas do sistema já estavam claras para ela também. Conquanto estivesse afastada do esquema, ou talvez por causa disso, esse negócio nos divertia e nos fazia rir. E essa piadinha se tornou um hábito nas nossas comunicações, nos momentos em que eu dava a saber que havia chegado bem.
Hoje, ao entrar em um aeroporto pela quarta vez em três dias, sentindo a familiaridade de quem toma a direção de casa, atropelou-me a necessidade de pegar meu telefone para avisar minha mãe que eu já ia embarcar. A nossa brincadeira, então, me veio imediatamente à memória: “preciso fazer a graça de sempre”, pensei... mas minha mãe não está mais lá. Não existe mais com quem brincar. A sensação de ausência fez-me imensa... Com o que se preenche um vazio deste tamanho?
The Lurker Says: “When we truly realize that we are all alone is when we need others the most” (Ronald Anthony)